quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Um móbile no furacão

Você diz que não me reconhece, que não sou o mesmo de ontem
E que tudo o que eu faço e falo não te satisfaz
Mas não percebe que quando eu mudo é porque
Estou vivendo cada segundo e você
Como se fosse uma eternidade a mais
Sou um móbile solto no furacão...
Qualquer calmaria me dá... solidão


Na última vez que troquei meu nome
Por um outro nome que não lembro mais
Tinha certeza: ninguém poderia me encontrar
Mas que ironia minha própria vida
Me trouxe de volta ao ponto departida
Como se eu nunca tivesse saído de lá

Sou um móbile solto no furacão
Qualquer calmaria me dá... solidão


Quando a âncora do meu navio encosta no fundo, no chão
Imediatamente se acende o pavio e detona-se minha explosão
Que me ativa, me lança pra longe pra outros lugares, pra novos presentes
Ninguém me sente...
Somente eu posso saber o que me faz feliz
Sou um móbile solto no furacão
Qualquer calmaria me dá... solidão

Paulinho Moska

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O meu olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Fomos


Cabe alguma explicação?
Medos que não eram nossos
Nunca foi nossa intenção
Espalhar tantos destroços
O que fomos não será
Definido por palavras fáceis
Que alguém dirá
Não estará nos calendários, dicionários
Nem nas buscas do google

Quis manter meus pés no chão
Despenquei do mesmo jeito
Na tábua de salvação
Escorreguei, mais um defeito
Não sabia o que esperar
E esperei pelo pior
Mas o pior foi piorar
Quando eu entendi que te perdi
Por me perder
Ao ser o que eu não era
Hoje eu sei...
Hoje, eu só

Jay Vaquer

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Consciência Cósmica

Já não preciso de rir.
Os dedos longos do medo
largaram minha fronte.
E as vagas do sofrimento me arrastaram
para o centro do remoinho da grande força,
que agora flui, feroz, dentro e fora de mim...

Já não tenho medo de escalar os cimos
onde o ar limpo e fino pesa para fora,
e nem deixar escorrer a força dos meus músculos,
e deitar-me na lama, o pensamento opiado...

Deixo que o inevitável dance, ao meu redor,
a dança das espadas de todos os momentos.
e deveria rir , se me retasse o riso,
das tormentas que poupam as furnas da minha alma,
dos desastres que erraram o alvo do meu corpo...

João Guimarães Rosa

Das tuas palavras


Por acaso eu falei que era pra entender?
Nunca quis ninguém a dominar o que se passa dentro da minha cabeça, egoísmo ou não, é só meu. Não sei até que ponto dividir pode ser bom pra você, sei que não seria bom pra mim. Fica então com o que vês; mas presta atenção, como diria Saramago: Repara!

É preciso consubstanciar as palavras. Desligá-las de um sentido prático, dissociá-las das tuas ações, as tornam meras junções de letras. É preciso que sejam elas coerentes com o que fazes. Guarda uma coisa em tua cabeça: Não preciso de adjetivos ou advérbios, de ti, quero apenas o que for substantivo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Aconteceu

Aconteceu
Eu não esperava, mas aconteceu
Todo o bem que fiz, se fiz, ela esqueceu
Revelando a sua imprudência
Construí um lar, o lar que ela pedia
Exigiu-me coisas que ela não queria
É e aconteceu
Hoje ela chora tudo o que perdeu
E chorando veio me pedir perdão
Fica para ela a lição

Cartola

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Mais e Menos

Afinidade acontece.
Um mesmo signo, um mesmo par de
Sapatos caramelo, um mesmo livro de cabeceira.
Afinidade acontece entre seres humanos.
A mesma frase
Dita ao mesmo tempo, o diálogo mudo dos olhares e a
Certeza das semelhanças entre o que se canta
e o que se escreve.
Afinação acontece.
Um mesmo acorde,
um mesmo som, uma mesma harmonia.
Afinação acontece entre instrumentos musicais.
A mesma nota repetidas vezes,
Abusca pela perfeição sonora e a certeza das
Similaridades entre um tom acima e um tom abaixo.
A incrível mágica acontece quando os instrumentos musicais
Descobrem afinidades humanas entre si no
Mesmo instante em que os seres humanos descobrem
Afinações musicais dentro deles mesmos.

Fernando Anitelli

Ecoando notas

O moço toca flauta enquanto ela lembra das virtudes
Esquecidas nas cavernas de seu coração. A melodia vai
Ecoando por toda parte, desde os ouvidos até o pulmão.
Ela tropeça nela mesma enquanto se enternece com o som
Raro daquela flauta. E a tristeza transversal que até
Então lhe preenchia dá lugar a uma euforia luminosa,
Assim sem razão de ser, mas já sendo.

Fernando Anitelli

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...


- mas só esse eu não farei.


Uma palavra calda
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...


- palavra que não direi.


Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,


- que amargamente inventei.


E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...


- e um dia me acabarei.

Cecília Meireles

Inscrição na Areia

O meu amor não tem
importância nenhuma.
Não tem o peso nem
de uma rosa de espuma!

Desfolha-se por quem?
Para quem se perfuma?

O meu amor não tem
importância nenhuma.

Cecília Meireles

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Benditas

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas


A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

Mart'nália e Zelia Duncan

terça-feira, 14 de julho de 2009

Aceitarás o amor como eu o encaro ?

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.


Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.


Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.


Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

Mario de Andrade

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Como diria Odair

A felicidade é uma coisa tão difícil
Tão difícil de conseguir
Mas de vez em quando ela chega
Quando menos se espera
Quando nada se espera
Ela vem
E fica um pouco aqui comigo
Por algumas horas, minutos, segundos

Como já falou o sábio poeta Odair
Ouve aí:
Felicidade não existe, só momentos felizes
No mais são cruzes e crises

Sempre que eu tô feliz
Logo vem um infeliz
Se fingindo de amigo
Querendo apagar o meu sorriso
Que é o mais próximo do paraíso que eu consigo

Quando menos se espera
Quando nada se espera
Ela vem, vai, vem, vai, vem, vai, vem, vai
Vem, vai, vem, vai, vem, vai, vem, vai...

Zeca Baleiro

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Presença



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Mario Quintana

sábado, 20 de junho de 2009

Isso é Bom

As noites contigo passam depressa
Eu nunca percebo quando começa
A clarear o dia
É sempre o mesmo adeus
Difícil é pensar
Que eu não sou nada teu
Eu só conheço teu rosto de perto
E tenho certeza de que estou certo
É bom ouvir você dizer que é bom
Preciso dizer que eu sou todo teu
Me leva pra algum mirante
Algum lugar aonde eu possa ver
As luzes dos faróis
Refletidas nos teus olhos
Deixa eu te perguntar
Deixa eu te responder
Tudo que a gente
Tudo que a gente quiser saber
A gente quer se conhecer
E isso é bom, né?
A gente quer saber se vai ser bom
Isso já é bom, né?
A gente quer saber se ter

Paulinho Moska

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Inverno

"guardo
roupas de inverno
e o calor que não tive"

Ricardo Portugal

terça-feira, 16 de junho de 2009

Acordei Bemol

Acordei bemol
Tudo estava sustenido

Sol fazia
Só não fazia sentido

Paulo Leminski

Momento

Vazio.
Isso resume o momento.
E não tenho mais nada a dizer.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Querer

O que temo em ti não é um não à minha secreta pergunta, mas a imensidão que comporta um sim, sobretudo, pela oportunidade de entrar em contato com a tua imensidão, pois sobre esta me faço tantas perguntas, não na ânsia louca de respostas, faço-as apenas com o prazer de quem pergunta. Devaneios... Imanigo então que me permitirias esse contato consigo? Com a tua imensidão? E ainda que me permitas, isso é necessário? Não tenho dúvidas que isso me faria menos triste que hoje, quem sabe me tornaria até um pouco feliz?... No entanto, saibas que meu querer não implica retorno para manter-se querer. É o fato de querer que realmente me importa, gosto de querer e posso expressá-lo das mais diversas formas sem carregar aquela angústia de quem não é correspondido. Aprendi à amar de diversas formas, e em todas encontro algum tipo de prazer. Talvez seja ele intrínsceco a quem ama, e talvez eu ame.

domingo, 7 de junho de 2009

Mudança


Não apenas estou mudando de residência, de bairro (estou quase a perder as contas, de quantas vezes já me mudei), estou dando um passo um pouco maior que as minhas pernas, no entanto, não posso deixar de tentar. E sinto medo, sem dúvida, mas aprendi que o medo é inerente a condição humana, o tenho porque conheço os meus limites, e se é assim, isso significa que conheço um pouco de mim. Não é fácil deixar pra trás qualquer fase da vida, pelo menos pra mim nunca foi. Cada transição representou a perda de algo que eu tinha certeza que me pertencia, e daí eu tiro uma lição: qualquer certeza é momentânea.

Trocando em miúdos


Para um ex-amor:


Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu

Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter

Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu

Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.

Chico Buarque e Francis Hime

sábado, 6 de junho de 2009

Praia

E porque no meio de tantos sorrisos só consigo perceber a ausência do teu? Certamente é porque o teu sorriso me transmite uma sensação de alegria que busco constantemente dentro de mim. E como eu queria sorrir assim, melhor dizendo queria sorrir junto a ti, contigo, de si. Outro dia eu estava debaixo de uma árvore, numa certa praia de Recife, lendo um livro e você me veio à cabeça. Naquele instante eu gostaria que você estivesse perto de mim. Mas não sei se você gosta de praia...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Todos os fracos

Todos os fracos juntos são mais fracos
Fadados à confortável derrota coletiva
Todos os fracos são opacos
Conformados na inevitável tristeza cativa
Todos os fracos com a chance de perder por pouco
Acenando pro futuro que não veio
Todos os fracos num lance de sofrer feito louco
Andando no escuro com receio
Todos os fracos pedem proteção
O desejo secreto de estar completo quanto possível
Todos os fracos perdem a direção
E o desejo repleto de sonhos frustrados pelo incrível

Todos os fracos desistiram reprimidos pelo medo de não ser
Entregando os pontos quando os tontos são tantos
Todos os fracos tomaram comprimidos tentaram esquecer
Duvidando dos santos quando os prantos são tantos

Todos os fracos num espelho trincado
Pra sete anos de azar
Todos os fracos meu espelho evitado
Como se pudesse evitar

Jay Vaquer

Impressões

Fecho as portas
Olhos e sentidos se perderam
Espelho que reflete pouco
Vem você e
Na boca o gosto do dizer
Da janela ficam espiando
E é só sufocar um pouco
Dão valor pro ar

Eu disse como vai você
Eu disse, lembro de você...

Talvez seja o início de uma fase
Que ainda não aconteceu
Um sopro no vazio da vida
Quem ainda não vive
Como queria, como teria?
O que dirá divagando “devagar e sempre”
Indo pra algum lugar...

Talvez seja o inicio de uma fila
Caso eu canse, guarde meu lugar
A sonora presença debochada de
Seu jeito me move
Como sentia, cometeria
O absurdo abstrato tá na sua mente
Justo onde deve estar

Jay Vaquer

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Admiração

Meus olhos, famintos, não se cansam
de te acariciar
Procuram sempre um novo ângulo
pra te admirar
E sonham mergulhar na sua boca de vulcão
Provar todo o calor que há na sua erupção

Escorregar nos rios claros
das margens dos teus pêlos
E encontrar o ouro escondido
que brilha em seus cabelos
Devorar a fruta que te emprestou o cheiro
E talvez desfrutar de um amor puro e verdadeiro

Esquecer o espaço, o tempo e o viver
Perder a noção do que é ter a noção do perder
Se um dia eu fui alegria ao te conhecer
Agora canto porque sinto a dor de não te ter


Paulinho Moska

Besteira

Eu não tenho medo de me expor, de mostrar o que sinto. Mas compreendo que isso assusta um pouco algumas pessoas. No final a gente sempre tem um pouco de receio de ouvir a verdade. Entretanto não vejo virtude em dizer a verdade, pelo contrário, hoje a virtude é dissimular. Em contrapartida, sempre temi ser mal interpretada e parece que isso está acontecendo mais uma vez. O que eu faço não tem um fim específico, mas no decorrer da ação às vezes pode acontecer algo que foge ao controle, algo que não se pode evitar.

Mas tudo isso é besteira, logo passa.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Altos e baixos


Eu tô botando dúvida
Eu tô botando defeito
Eu tô prestando pra nada
Tô ficando obsoleto de mim
Ficando absolutamente não afim

Eu tô na crista da onda
Eu tô fazendo sucesso
Tô no topo do cristo
Sou o motor do progresso
todo tudo pra chegar no primeiro lugar
Que eu nem sei onde é, mas deve
Ser melhor do que aqui

Eu fico frio de medo
Eu fico cheio de dedo
Eu tô prestando pra nada
Tô querendo me livrar de mim
Eu fico transparentemente não afim

Eu sou o herói do momento
Eu sou a capa da veja
Eu sou o tampa de crush
Sou a loura da cerveja Schin
Eu sou a nova coqueluche do inverno
Pobre feliz de mim

Eu fui tirando do time
Tô em regime de fome
Eu tô prestando pra nada
Tô perdendo a validade de mim
Eu fico aparentemente não afim

Eu tô nadando em dólares
Eu fiz o gol da vitória
Eu sou o centro da história
Eu sou o aço da Votorantim
Eu sou Jesus tirando férias no inferno
Pobre feliz de mim

Lula Queiroga e Yuri Queiroga

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Da minha pouca imunidade

Ando sendo acometida por um monte de viroses, bactérias e microorganismos. Cada semana é uma coisa, isso deve ser reflexo da minha pouca imunidade, certamente meu organismo está fragilizado. Meu sistema imunológico foi pro brejo.

Não estou imune aos meus erros, que não são poucos, e aos erros dos que me rodeiam. Nem à falta de afeto de algumas pessoas. Não estou imune a falta de sinceridade que permeiam algumas de minhas relações sociais. Não estou imune a esse silêncio gritante que me encoleriza, não estou imune ao descaso. Nem muito menos a uma paixão inesperada.

Preciso de Vitamina C urgentemente, quero reforçar os meus anticorpos pra essa batalha diária.

“Imunidade: é uma característica especial de poder suportar por completo alguma coisa sem ser minimamente afetado por ela”.

Eita ano do cão!

Como eu imagino que ninguém olha esse blog, pensei: - Porque não falar o que penso aqui?
Por esta razão, a partir de hoje as letras de música e poesias irão dividir espaço com os meus pensamentos. Não que estes estejam à altura daquelas, mas é isso mesmo que vai acontecer.


E a primeira coisa que eu queria dizer é:

- Eita ano do cão!

Como um ano pode reunir tanta coisa ruim? E não é só pra mim... Tanta gente também está sofrendo. Tantas perdas. Eu perdi uma amiga; esperança; meu maior sonho; perdi também o respeito e a consideração de quem eu menos esperava, e tem sido muito difícil lidar com tudo isso. Porque aparentemente eu deveria suportar. Como diz o senso comum:


- Tem tanta gente por aí pior que você...


De fato! Mas o peso que carrego é bem pesado pra mim. E por vezes me pergunto se entre as perdas que tenho sofrido, não estaria também a perda da fé. Seja essa fé a crença em um Deus que supostamente vai me fazer perseverar, ou mesmo a fé em mim mesma, na minha capacidade de viver e superar esse monte de merda que tem acontecido...


Mas como disse um professor na ocasião da morte da minha amiga:

- Merda acontece!

Não estaria eu então me fazendo de vítima?
Será?
Fácil julgar!

Quem está na rua e passa por uma fachada bem cuidada, pintada, com um vistoso jardim, supõe que dentro da casa os móveis estejam em ordem... Cada coisa em seu lugar.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Canção do dia de sempre



Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

Mario Quintana

Cheio de vazio

O vazio é um meio de transporte
Pra quem tem coração cheio
Cheio de vazios que transbordam
Seus sentidos pelo meio
Meio que circunda o infinito
Tão bonito de tão feio
Feio que ensina e que termina
Começando outro passeio

E lá do outro lado do céu
Alguém derrama num papel
Novos poemas de amor

Amor é o nome que se dá
Quando se percebe o olhar alheio
Alheio a tudo que não for
Aquilo que está dentro do teu seio
Porque seio é o alimento
E ao mesmo tempo a fonte para o desbloqueio
E desbloqueio é quando aquele tal vazio
Se transforma em amor que veio

Paulinho Moska

quinta-feira, 28 de maio de 2009

As coisas mais leves

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Mario Quintana

Meu segredo

É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso.
Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar.
Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.

Clarice Lispector

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Nunca ninguém sabe

Nunca ninguém sabe se estou louco para rir ou para chorar.
Por isso o meu verso tem esse quase imperceptível tremor...
A vida é louca, o mundo é triste:
Vale a pena matar-se por isso?
Nem por ninguém!
Só se deve morrer de puro amor...

Mário Quintana

terça-feira, 26 de maio de 2009

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

Vinícius de Moraes

Ainda que mal

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entenda,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda assim te pergunto
e me queimando em teu seio,
me salvo e me dano: amo

Carlos Drummond

Eu queria trazer-te uns versos


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!

Mario Quintana

Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...

Vinícius de Moraes

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Para se fazer uma canção

Para se fazer uma canção
Desfaço as malas do meu coração
Eu sobrevôo minha solidão
E encontro o fim de um deserto
Para se fazer uma canção
Um som, um céu sem direção
Como eu não previ, como eu nunca sei
O amor que dei
Acho a luz no fim da escuridão
E ascendo a imaginação
Olá, você ai
Que bom te ouvir
E eu não preciso de mais nada
Por isso corro nas calçadas, corro nos seus pensamentos
Alentos pra solidão
Passaporte pra dentro da alma
E você que vem com pressa, calma
Dor adeus, Deus perdão
Dois, amor, doeu?
Mas como é bom! Mas como é bom!
E quando é bom é tudo seu
E eu sou teu, você e eu
Na imensidão a sós
Essa é minha voz
Que é a sua voz também
E a canção é de ninguém

Paulinho Moska

Parte Coração

Parte Coração
Aprende que tua missão nessa vida é sofrer
Pobre coração
Dói no fundo do peito
Dizendo que existe
Mostrando que insiste em sofrer, em sofrer

Chore e bate mais forte
e as vezes mais manso
que eu mesmo não canso
de me apaixonar

bata e se dê o direito de gostar de alguém
que eu dou um jeito de gostar também
sou teu companheiro até no sofrer
mas vê se de vez em quando, em vez de chorar
você ri um pouco que é pra compensar
toda essa tristeza que é de nós dois

Pedro Luís

quinta-feira, 5 de março de 2009

Amor

...

Não falo do amor romântico,
Aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão, paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
E pensam que o amor é alguma coisa
Que pode ser definida, explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto, formatado, inteiro,
Antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto,
para mim, que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído, inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
O amor será sempre o desconhecido,
A força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido, quer ser violado,

Quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
Decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
E nós preferimos o leito de um rio, com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor e não podemos castrá-lo.

O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha
E nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
Como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
Como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
O amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio
Porque somos o alimento preferido do amor,
Se estivermos também a devorá-lo.

O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
Me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a vida é feita.
Ou melhor, só se vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.

Vênus - Paulinho Moska

Deus

"Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escadalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."
Clarice Lispector

quarta-feira, 4 de março de 2009

Na estrada

Ela vai voltar, vai chegar
E se demorar, i'll wait for you
Ela vem, e ninguém mais bela
Baby, i wanna be yours tonight...
Sem botão, no tempo
No topo, no chão
Em cada escada
A caminhada a pé
De caminhão...
Seu horário nunca é cedo
Aonde estou?
E quando escondo
A minha olheira
É prá colher amor...
Sala, sem ela, tem janela
Inclino, em cerca de atenção
Ela vem, e ninguém
Mas ela vem
Em minha direção
Sala, sem ela tem
Janela inclino
Em cerca de atenção
Ela vem, e ninguém
Mais bela vem
Em minha direção...

Carlinhos Brown / Marisa Monte / Nando Reis

Luz

Foi uma luz que se pagou em mim,
um sorriso que se desfez
a lágrima que nunca vi cair.

Dor que pertuba
por se fazer eterna,
Dor absurda
impossível de prever.

Brilho que me deu,
Alegria que mostrou,
os segredos confiados.
as lições que me ensinou.

Pouco o tempo se fez
Não disse o quanto te amava.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Medo de Deus

Às vezes tenho medo de Deus
Dos dias que Ele acorda de mau humor
Às vezes tenho medo do Seu Amor

Às vezes tenho pena de Deus
Das noites que Ele bebe e não sabe o que faz
Depois põe a culpa no destino e se esconde atrás

Quando decide que alguém tem que partir
Quando Ele dorme ou se distrai

Às vezes tenho raiva de Deus
Quando Ele se mostra cego como uma lâmpada queimada

E surdo como uma pedra dentro d'água
E às vezes sinto falta de um deus
Que realmente cuide bem do seu asilo de loucos

E nos dê finalmente uma vida guardada pra poucos
Porque essa dor sem nome tem que ter fim:
A dor de não saber de onde eu vim

Paulinho Moska

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cicatrizes

Amor que nunca cicatriza
Ao menos ameniza a dor
Que a vida não amenizou
Que a vida a dor domina
Arrasa e arruína
Depois passa por cima a dor
Em busca de outro amor
Acho que estou pedindo uma coisa normal
Felicidade é um bem natural
Uma, qualquer uma
Que pelo menos dure enquanto é carnaval
Apenas uma
Qualquer uma
Não faça bem
Mas que também não faça mal
Meu coração precisa
Ao menos ameniza a dor
Que a vida não amenizou
Que a vida dor domina
Arrasa e arruína
Depois passa por cima a dor
Em busca de outro amor
Acho que estou pedindo uma coisa normal
Felicidade é um bem natural
Uma, qualquer uma
Que pelo menos dure enquanto é carnaval
Apenas uma
Qualquer uma
Não faça bem
Mas que também não faça mal...

Miltinho / Paulo César Pinheiro

Lavoura

Quatro da manhã
Dor no apogeu
A lua já se escondeu
Vestindo o céu de puro breu
E eu mal vejo a minha mão
A rabiscar
Esboço de canção.
Poesia vã
Pobre verso meu
Que brota quando feneceu
A mesma flor que concebeu
Perdido na alucinação
Do amor
Acreditando na ilusão.
Canto pra esquecer a dor da vida
Sei que o destino do amor
É sempre a despedida
A tristeza é um grão
Saudade é o chão onde eu planto
No ventre da solidão
É que nasce o meu canto.

No ventre da solidão é que nasce o meu canto...

Teresa Cristina e Pedro Amorim

Cigarro

A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem
Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?
Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

O amor é pedra no abismo
A meio-passo entre o mal e o bem
Com meus botões à noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?
Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem?
Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

Zeca Baleiro

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ventania

Foi preciso perder-te
- Tudo o que eu mais queria
Pra perceber tudo aquilo que tinha.
Chegastes fazendo ventania em mim
Arrebatou-me,
Tornou-se vida.
Depois violando a si e a mim,
Tornastes brisa,
Aos poucos perdeu a força.
E hoje vivo das folhas de outono
Que deixastes em meu jardim

Deise

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Quero escrever o borrão vermelho de sangue


Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu, por falso respeito humano,não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

Clarice Lispector

Extrato das elegias romanas

Aqui, nesta clássica terra, alegro-me.
O mundo antigo e o Moderno me falam com doces e claras palavras.
Aqui sigo o Preceito, e com a mão jovial folheando as obras muito antigas,
experimento agora um Prazer novo.
Mas, pela noite, Amor me atrai a outros afazeres.
Jamais serei completamente
Douto, em contrapartida me sinto duplamente feliz.
Aprender jamais, talvez, se olho os belos seios ou se modelo ligeiramente
Com a mão os seus flancos.
Só naquele momento compreendo o mármore, reflito,
comparo e vejo com olhar que sente e sinto com mão que vê.
Se minha amiga me rouba mais de uma hora durante o dia,
como troca, me concede depois as horas noturnas.
Nem sempre nos beijamos. Às vezes falamos seriamente.
Depois, se ela adormece, perto dela
Medito. Entre os seus deliciosos braços muitas vezes eu compus
mais do que um verso e delicadamente
sobre as suas costas com o dedo contei as partes do verso.
Ela respira apenas, no sono, e seu respirar me
Penetra até o fundo do meu coração.
Entretanto, Amor alimenta a chama e pensa no tempo em que
costumava ter a mesma imcumbência

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O mundo

O mundo é pequeno pra caramba
Tem alemão, italiano, italiana
O mundo filé milanesa
Tem coreano, japonês, japonesa
O mundo é uma salada russa
Tem nego da Pérsia,
tem nego da Prussia
O mundo é uma esfiha de carne
Tem nego do Zâmbia,
tem nego do Zaire
O mundo é azul lá de cima
O mundo é vermelho na China
O mundo tá muito gripado
O açúcar é doce,
o sal é salgado
O mundo caquinho de vidro
Tá cego do olho, tá surdo do ouvido
O mundo tá muito doente
O homem que mata,
o homem que mente
Porque você me trata mal
Se eu te trato bem
Porque você me faz o mal
Se eu só te faço o bem
Todos somos filhos de Deus
Só não falamos as mesmas línguas
Everyboby is filhos de God
Só não falamos as mesmas línguas
Everybody is filhos de Gandhi
Só não falamos as mesmas línguas

André Albujanra

Trampolim

Você não sofre porque não sente o que eu sinto
Há um iceberg em você que eu tenho que derreter
Que tipo de piscina terá embaixo desse trampolim?
Que pulo que eu vou ter que dar pra não me ferir?

Porque acordar sem você é ficar cego no amanhecer
É assistir o fim do mundo, depois escurecer
E eu no meio disso tudo sem saber
Que já estamos no início do que vamos ser

Hoje eu não acordei
Hoje eu não vou dormir
Hoje eu nunca te dei
Hoje eu quero partir

Paulinho Moska

De tanto amor

Ah ! Eu vim aqui amor só pra me despedir
E as últimas palavras desse nosso amor, você vai ter que ouvir
Me perdi de tanto amor, ah, eu enlouqueci
Ninguém podia amar assim e eu amei
E devo confessar, aí foi que eu errei
Vou te olhar mais uma vez, na hora de dizer adeus
Vou chorar mais uma vez quando olhar nos olhos seus, nos olhos seus
A saudade vai chegar e por favor meu bem
Me deixe pelo menos só te ver passar
Eu nada vou dizer perdoa se eu chorar

Roberto Carlos e Erasmo Carlos