segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Palavras de Huxley...

Nem o socialismo, nem o comunismo, nem o capitalismo; nem a arte, a ciência, a ordem pública, nenhuma religião ou Igreja. Tudo isso é indispensável, mas nada disso é bastante. A civilização exige do indivíduo uma auto-identificação devotada às mais elevadas causas da humanidade. Mas, se essa auto-identificação com o que é humano não for acompanhada por um esforço consciente e congruente, visando a atingir a autotranscendência ascendente no sentido da vida universal do Espírito, os bens alcançados estarão sempre misturados a males que os contrabalançam.

Aldous Huxley

Retirado de "Os demônios de Loudun", p. 328-329 (Apêndice)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Autotranscendência

[...]
Sabemos de maneira vaga quem somos. Daí advém nosso desgosto em ter que parecer o que não somos e o ardente desejo de ultrapassar os limites desse eu aprisionado. A única autotranscendência libertadora se dá pelo autruísmo e pela entrega total à inspiração [...]. Contudo, a autotranscendência libertadora é mais fácil de explicar do que de atingir. Para aqueles que se encontram intimidados pelas dificuldades do caminho ascendente, existem outras alternativas menos árduas. A autotranscendência não é, de modo algum, invariavelmente dirigida para cima. Na verdade, na maioria dos casos é uma fuga, ou em sentido descendente, para um estágio inferior da personalidade, ou mesmo horizontalmente, para algo mais amplo que o ego, e no entanto, não mais elevado, não diferente em essência. Estamos eternamente tentando mitigar os efeitos da Queda coletiva na personalidade isolada, por outra queda, estritamente pessoal, no embrutecimento ou na loucura, ou por algum tipo de evasão na arte ou na ciência, na política, em um hobby ou em um emprego. É desnecessário dizer que esses sucedâneos para a autotranscêndencia, essas fugas para substitutos da Graça, subumanos ou tão-somente humanos, são, na melhor das hipóteses, insatisfatórios, e na pior, desastrosos.

Aldous Huxley

Retirado de "Os demônios de Loudun", p. 78

sábado, 6 de novembro de 2010

Soneto da Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Vinícius de Morais