é-nos sempre pedido para compreender o ponto de vista das outras pessoas nem que seja ultrapassado disparatado e horrível. é pedido para ver todos os seus erros todo o vazio das suas vidas com compreensão principalmente se forem de idade. mas o envelhecer é o somatório de tudo o que foi feito. eles envelheceram mal porque eles viveram alienados, eles recusaram-se a ver. a culpa não é deles? de quem é? minha? é-me pedido que esconda o meu ponto de vista deles devido ao medo do medo deles. envelhecer não é um crime mas a vergonha de viver deliberadamente uma vida vazia no meio de tantas vidas deliberadamente vazias é.
Você , se pede prá esquecer já tem no coração um nó amarrado por quê brincar de esconder soltar da minha mão assim tão sem cuidado
O amor é desumano duvidando sem saber crescendo na ausência na urgência de querer a voz o tom de última vez me trai , me divide duvidez, duvidez 10 vezes nunca mais.
Você, se pede prá me ver parece compaixão parece pena, perdão por que , que flores não te dei que mal eu não te fiz prá merecer culpa? adeus, um beijo prá você a gente se vê, se der.
Eu te amo porque te amo, Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
Nem o socialismo, nem o comunismo, nem o capitalismo; nem a arte, a ciência, a ordem pública, nenhuma religião ou Igreja. Tudo isso é indispensável, mas nada disso é bastante. A civilização exige do indivíduo uma auto-identificação devotada às mais elevadas causas da humanidade. Mas, se essa auto-identificação com o que é humano não for acompanhada por um esforço consciente e congruente, visando a atingir a autotranscendência ascendente no sentido da vida universal do Espírito, os bens alcançados estarão sempre misturados a males que os contrabalançam.
Aldous Huxley
Retirado de "Os demônios de Loudun", p. 328-329 (Apêndice)
[...] Sabemos de maneira vaga quem somos. Daí advém nosso desgosto em ter que parecer o que não somos e o ardente desejo de ultrapassar os limites desse eu aprisionado. A única autotranscendência libertadora se dá pelo autruísmo e pela entrega total à inspiração [...]. Contudo, a autotranscendência libertadora é mais fácil de explicar do que de atingir. Para aqueles que se encontram intimidados pelas dificuldades do caminho ascendente, existem outras alternativas menos árduas. A autotranscendência não é, de modo algum, invariavelmente dirigida para cima. Na verdade, na maioria dos casos é uma fuga, ou em sentido descendente, para um estágio inferior da personalidade, ou mesmo horizontalmente, para algo mais amplo que o ego, e no entanto, não mais elevado, não diferente em essência. Estamos eternamente tentando mitigar os efeitos da Queda coletiva na personalidade isolada, por outra queda, estritamente pessoal, no embrutecimento ou na loucura, ou por algum tipo de evasão na arte ou na ciência, na política, em um hobby ou em um emprego. É desnecessário dizer que esses sucedâneos para a autotranscêndencia, essas fugas para substitutos da Graça, subumanos ou tão-somente humanos, são, na melhor das hipóteses, insatisfatórios, e na pior, desastrosos.
De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.
A minha dor se desfaz quando canto Por isso não derramo pranto O que sei é somente cantar Toda tristeza que mora em meu peito Me agita e me dá o direito De sorrir pra não chorar O dia-a-dia com seu desafio O tempo que passa vadio O amor que se faz sem amor O desencanto do tudo por nada A vida seguindo marcada De saudade e dissabor
É por isso que eu canto, amor É por isso que eu canto, amor
Tanto faz eu quero é viver O meu sofrer vai se acabar Talvez um dia Uma alegria Todo esse mal apagará
Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos.
Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.
Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.
Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a Minha virtude era esta errância por mares contraditórios, e este abandono para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é a minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...
Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo nasça da felicidade. “Acho que tudo está bem”, diz Édipo e essa frase é sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele entrara com a insatisfação e o gosto das dores Inúteis. Faz do destino uma questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe.
Como eu queria que fosse possível voltar no tempo.
Agir diferente, ou mesmo ter tempo para corrigir alguns erros. Não me martirizo por eles, faziam e continuam fazendo parte da minha trajetória de vida e de “constante aprendizado”. Mas não posso ser hipócrita e dizer que não me arrependo deles. Sim, e muito. As coisas aconteceram no lugar certo e na hora errada, e vimos que isso fez toda a diferença. Gostaria de poder viver tudo aquilo novamente, no momento em que me encontro hoje. Na ausência de possibilidades me apego às lembranças desse tempo alegre. Sou extremamente grata a elas.
[...] Não havia soldados no lugar, nem havia juiz.
E como o vigário residia longe, a mulher de seu Ribeiro rezava o terço e contava histórias de santos às crianças. É possível que nem todas as histórias fossem verdadeiras, mas as crianças daquele tempo não se preocupavam com a verdade.
Seu Ribeiro tinha família pequena e casa grande. A casa estava sempre cheia. Os algodoais do major eram grandes também. Nas colheitas a população corria para eles. E os pretos não sabiam que eram pretos, e os brancos não sabia que eram brancos.
Na verdade seu Ribeiro infundia respeito. Se havia barulho na feira, levantava o braço e gritava:
- Quem for meu me acompanhe.
E a feira se desmanchava, o barulho findava, todo mundo seguia o major porque todo mundo era do major.
Nas noites de S. João uma fogueira enorme iluminava a casa de seu Ribeiro. Havia fogueiras diante das outras casas, mas a fogueira do major tinha muitas outras carradas de lenha. As moças e os rapazes andavam ao redor dela, de braço dado. Assava-se milho verde nas brasas e davam-se tiros medonhos de bacamarte. O major possuía um bacamarte, mas o bacamarte só se desenferrujava pelos festejos de S. João.
Ora, essas coisas se passaram antigamente.
Mudou tudo. Gente nasceu, gente morreu, os afilhados do major cresceram e foram para o serviço militar, em estrada de ferro.
O povoado transformou-se em vila, a vila transformou-se em cidade, com chefe político, juiz de direito, promotor e delegado de polícia.
Trouxeram máquinas – e a bolandeira do major parou.
Veio o vigário, que fechou a capela e construiu uma igreja bonita. As histórias dos santos morreram na memória das crianças.
Chegou o médico. Não acreditava nos santos. A mulher de seu Ribeiro entristeceu, emagreceu e finou-se.
O advogado abriu consultório, a sabedoria do major encolheu-se – e surgiram no foro numerosas questões.
Efetivamente a cidade teve um progresso rápido. Muitos homens adotaram gravatas e profissões desconhecidas. Os carros de boi deixaram de chiar nos caminhos estreitos. O automóvel, a gasolina, a eletricidade e o cinema. E impostos.
As moças e os rapazes não rodeavam, de braço dado, as fogueiras de S. João: dançavam o tango, no frevo.
Um dia seu Ribeiro reconheceu que vivia numa casa grande demais. Vendeu-a e adquiriu outra, pequena. Como havia agora liberdade excessiva, a autoridade dele foi minguando, até desaparecer.
Seu Ribeiro tinha um filho, que jogava futebol, e uma filha, que usava fitas, muitas fitas.
Acharam o lugar atrasado e fugiram. Seu Ribeiro escondeu-se, cheio de vergonha. Amofinou-se uma semana, desfez-se dos cacarecos e foi procurar os filhos. Não os encontrou: andavam por aí, ela pelas fábricas, ele no exército.
Seu Ribeiro enraizou-se na capital. Conheceu enfermarias de indigentes, dormiu nos bancos dos jardins, vendeu bilhetes de loteria, tornou-se bicheiro e agente de sociedades ratoeiras. Ao cabo e dez anos era gerente e guarda-livros da Gazeta, com cento e cinqüenta mil-réis de ordenado, e pedia dinheiro aos amigos.
Quando o velho acabou de escorrer a sua narrativa, exclamei:
- Tenho a impressão de que o senhor deixou as pernas debaixo de um automóvel, seu Ribeiro. Por que não andou mais depressa? É o diabo.
Graciliano Ramos, São Bernardo, 88ª ed., 2009. pp.44-46
Claramente: o mais prático dos sóis, o sol de um comprimido de aspirina: de emprego fácil, portátil e barato, compacto de sol na lápide sucinta. Principalmente porque, sol artificial, que nada limita a funcionar de dia, que a noite não expulsa, cada noite, sol imune às leis de meteorologia, a toda hora em que se necessita dele levanta e vem (sempre num claro dia): acende, para secar a aniagem da alma, quará-la, em linhos de um meio-dia.
Convergem: a aparência e os efeitos da lente do comprimido de aspirina: o acabamento esmerado desse cristal, polido a esmeril e repolido a lima, prefigura o clima onde ele faz viver e o cartesiano de tudo nesse clima. De outro lado, porque lente interna, de uso interno, por detrás da retina, não serve exclusivamente para o olho a lente, ou o comprimido de aspirina: ela reenfoca, para o corpo inteiro, o borroso de ao redor, e o reafina.
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem Quem sou? um fogo-fátuo, uma miragem... Sou um reflexo...um canto de paisagem Ou apenas cenário! Um vaivém
Como a sorte: hoje aqui, depois além! Sei lá quem sou?Sei lá! Sou a roupagem De um doido que partiu numa romagem E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro... Uma estátua truncada de alabastro... Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados, Num mundo de maldades e pecados, Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Mar que ouvi sempre cantar murmúrios Na doce queixa das elegias, Como se fosses, nas tardes frias De tons purpúreos, A voz de minhas melancolias:
Com que delícia neste infortúnio, Com que selvagem, profundo gozo, Hoje te vejo bater raivoso, Na maré-cheia de novilúvio, Mar rumoroso!
Com que amargura mordes a areia, Cuspindo a baba da acre salsugem, No torvelinho de ondas que rugem Na maré-cheia, Mar de sargaços e de amuragem!
As minhas cóleras homicidas, Meus velhos ódios de iconoclasta, Quedam-se absortos diante da vasta, Pérfida vaga que tudo arrasta, Mar que intimidas!
Em tuas ondas precipitadas, Onde flamejam lampejos ruivos, Gemem sereias despedaçadas, Em longos uivos Multiplicados pelas quebradas.
Mar que arremetes, mas que não cansas, Mar de blasfêmias e de vinganças, Como te invejo! Dentro em meu peito Eu trago um pântano insatisfeito De corrompidas desesperanças!...