quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Cicatrizes

Amor que nunca cicatriza
Ao menos ameniza a dor
Que a vida não amenizou
Que a vida a dor domina
Arrasa e arruína
Depois passa por cima a dor
Em busca de outro amor
Acho que estou pedindo uma coisa normal
Felicidade é um bem natural
Uma, qualquer uma
Que pelo menos dure enquanto é carnaval
Apenas uma
Qualquer uma
Não faça bem
Mas que também não faça mal
Meu coração precisa
Ao menos ameniza a dor
Que a vida não amenizou
Que a vida dor domina
Arrasa e arruína
Depois passa por cima a dor
Em busca de outro amor
Acho que estou pedindo uma coisa normal
Felicidade é um bem natural
Uma, qualquer uma
Que pelo menos dure enquanto é carnaval
Apenas uma
Qualquer uma
Não faça bem
Mas que também não faça mal...

Miltinho / Paulo César Pinheiro

Lavoura

Quatro da manhã
Dor no apogeu
A lua já se escondeu
Vestindo o céu de puro breu
E eu mal vejo a minha mão
A rabiscar
Esboço de canção.
Poesia vã
Pobre verso meu
Que brota quando feneceu
A mesma flor que concebeu
Perdido na alucinação
Do amor
Acreditando na ilusão.
Canto pra esquecer a dor da vida
Sei que o destino do amor
É sempre a despedida
A tristeza é um grão
Saudade é o chão onde eu planto
No ventre da solidão
É que nasce o meu canto.

No ventre da solidão é que nasce o meu canto...

Teresa Cristina e Pedro Amorim

Cigarro

A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver, meu bem
Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?
Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

O amor é pedra no abismo
A meio-passo entre o mal e o bem
Com meus botões à noite cismo
Pra que os trilhos, se não passa o trem?
Os mortos sabem mais que os vivos
Sabem o gosto que a morte tem
Pra rir tem todos os motivos
Os seus segredos vão contar a quem?
Dias vão, dias vêm, uns em vão, outros nem
Quem saberá a cura do meu coração se não eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu

Zeca Baleiro

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ventania

Foi preciso perder-te
- Tudo o que eu mais queria
Pra perceber tudo aquilo que tinha.
Chegastes fazendo ventania em mim
Arrebatou-me,
Tornou-se vida.
Depois violando a si e a mim,
Tornastes brisa,
Aos poucos perdeu a força.
E hoje vivo das folhas de outono
Que deixastes em meu jardim

Deise

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Quero escrever o borrão vermelho de sangue


Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu, por falso respeito humano,não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

Clarice Lispector

Extrato das elegias romanas

Aqui, nesta clássica terra, alegro-me.
O mundo antigo e o Moderno me falam com doces e claras palavras.
Aqui sigo o Preceito, e com a mão jovial folheando as obras muito antigas,
experimento agora um Prazer novo.
Mas, pela noite, Amor me atrai a outros afazeres.
Jamais serei completamente
Douto, em contrapartida me sinto duplamente feliz.
Aprender jamais, talvez, se olho os belos seios ou se modelo ligeiramente
Com a mão os seus flancos.
Só naquele momento compreendo o mármore, reflito,
comparo e vejo com olhar que sente e sinto com mão que vê.
Se minha amiga me rouba mais de uma hora durante o dia,
como troca, me concede depois as horas noturnas.
Nem sempre nos beijamos. Às vezes falamos seriamente.
Depois, se ela adormece, perto dela
Medito. Entre os seus deliciosos braços muitas vezes eu compus
mais do que um verso e delicadamente
sobre as suas costas com o dedo contei as partes do verso.
Ela respira apenas, no sono, e seu respirar me
Penetra até o fundo do meu coração.
Entretanto, Amor alimenta a chama e pensa no tempo em que
costumava ter a mesma imcumbência

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O mundo

O mundo é pequeno pra caramba
Tem alemão, italiano, italiana
O mundo filé milanesa
Tem coreano, japonês, japonesa
O mundo é uma salada russa
Tem nego da Pérsia,
tem nego da Prussia
O mundo é uma esfiha de carne
Tem nego do Zâmbia,
tem nego do Zaire
O mundo é azul lá de cima
O mundo é vermelho na China
O mundo tá muito gripado
O açúcar é doce,
o sal é salgado
O mundo caquinho de vidro
Tá cego do olho, tá surdo do ouvido
O mundo tá muito doente
O homem que mata,
o homem que mente
Porque você me trata mal
Se eu te trato bem
Porque você me faz o mal
Se eu só te faço o bem
Todos somos filhos de Deus
Só não falamos as mesmas línguas
Everyboby is filhos de God
Só não falamos as mesmas línguas
Everybody is filhos de Gandhi
Só não falamos as mesmas línguas

André Albujanra

Trampolim

Você não sofre porque não sente o que eu sinto
Há um iceberg em você que eu tenho que derreter
Que tipo de piscina terá embaixo desse trampolim?
Que pulo que eu vou ter que dar pra não me ferir?

Porque acordar sem você é ficar cego no amanhecer
É assistir o fim do mundo, depois escurecer
E eu no meio disso tudo sem saber
Que já estamos no início do que vamos ser

Hoje eu não acordei
Hoje eu não vou dormir
Hoje eu nunca te dei
Hoje eu quero partir

Paulinho Moska

De tanto amor

Ah ! Eu vim aqui amor só pra me despedir
E as últimas palavras desse nosso amor, você vai ter que ouvir
Me perdi de tanto amor, ah, eu enlouqueci
Ninguém podia amar assim e eu amei
E devo confessar, aí foi que eu errei
Vou te olhar mais uma vez, na hora de dizer adeus
Vou chorar mais uma vez quando olhar nos olhos seus, nos olhos seus
A saudade vai chegar e por favor meu bem
Me deixe pelo menos só te ver passar
Eu nada vou dizer perdoa se eu chorar

Roberto Carlos e Erasmo Carlos