quinta-feira, 23 de julho de 2009

Benditas

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei
Meus verdes ainda não maduros
Os espaços que ainda procuro
Os amores que eu nunca encontrei
Benditas coisas que não sejam benditas


A vida é curta
Mas enquanto dura
Posso durante um minuto ou mais
Te beijar pra sempre o amor não mente, não
mente jamais
E desconhece do relógio o velho futuro
O tempo escorre num piscar de olhos
E dura muito além dos nossos sonhos mais puros
Bom é não saber o quanto a vida dura
Ou se estarei aqui na primavera futura
Posso brincar de eternidade agora
Sem culpa nenhuma

Mart'nália e Zelia Duncan

terça-feira, 14 de julho de 2009

Aceitarás o amor como eu o encaro ?

Aceitarás o amor como eu o encaro ?...
...Azul bem leve, um nimbo, suavemente
Guarda-te a imagem, como um anteparo
Contra estes móveis de banal presente.


Tudo o que há de melhor e de mais raro
Vive em teu corpo nu de adolescente,
A perna assim jogada e o braço, o claro
Olhar preso no meu, perdidamente.


Não exijas mais nada. Não desejo
Também mais nada, só te olhar, enquanto
A realidade é simples, e isto apenas.


Que grandeza... a evasão total do pejo
Que nasce das imperfeições. O encanto
Que nasce das adorações serenas.

Mario de Andrade

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Como diria Odair

A felicidade é uma coisa tão difícil
Tão difícil de conseguir
Mas de vez em quando ela chega
Quando menos se espera
Quando nada se espera
Ela vem
E fica um pouco aqui comigo
Por algumas horas, minutos, segundos

Como já falou o sábio poeta Odair
Ouve aí:
Felicidade não existe, só momentos felizes
No mais são cruzes e crises

Sempre que eu tô feliz
Logo vem um infeliz
Se fingindo de amigo
Querendo apagar o meu sorriso
Que é o mais próximo do paraíso que eu consigo

Quando menos se espera
Quando nada se espera
Ela vem, vai, vem, vai, vem, vai, vem, vai
Vem, vai, vem, vai, vem, vai, vem, vai...

Zeca Baleiro

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Presença



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Mario Quintana